Quando “ele” nasce
Thiago Oliveira
Atônito, estrugido, estéril, morbidamente consciente da carência manifesta.
Mesmo assim, permaneço-me imóvel diante da figura retrátil que oscila abaixo
de minhas pupilas.
Sarcasticamente preso até o último suspiro.
Irritantemente insistente. Apavorante.
Observo a ampulheta; nada se move.
Nem a mínima sombra deixa seu estado etéreo.
Penso nos vários segundos, minutos, sensações, movimentos, rejeições e seu
espaço perdido.
Nem uma gota sequer de suor é capaz de romper o gélido momento.
Quão deprimente é a seca pertinente!
Quão necessário é o momento da ausência!
Perfiladas, uma atrás da outra, as ideias se dirigem para fora.
A tranquilidade nunca incomodou tanto.
Um momento de descaso e a imobilidade se destrói.
Como demover o silêncio de seu estado mais precioso?
Como tornar calmo o que é sereno por essência?
Como destronar o assombro de sua pérfida cátedra?
Assim como o momento, as respostas se demoram.
Triste representação medíocre do mais puro estado da natureza humana.
Ao fundo, gargalhadas.
Irrompe-se em ódio a revolta dos petulantes.
“_Quem é você?!”, ele pergunta.
E como se do nada, a seta enruga o peito desnudo.
A calma já não mais se mistura.
Não há mais aquela ausência de movimento.
A inércia foi rompida, a fuga foi roubada, não há mais como se esconder.
Os passos pesam em direção à porta.
As gargalhadas se tornam a referência.
A força parece tomar conta do que antes havia sucumbido.
É o som do nascimento.
Não há mais lugar para fugir.
Ele chegou! O medo.
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