Tristeza
Thiago Oliveira
“Que
nunca seja afastada de mim a tristeza
Não
sei se conseguiria viver sem ela.
De
todas as companheiras, a mais fiel.”
Qualquer
traço mais medíocre interpretaria essa senhora com tais versos.
Mas
não vejo saída.
Como
se por algum momento optasse por obtê-la, a saída!
Somente
os senhores de si conseguem tal façanha.
Eu
prefiro a pergunta: o que você quer de mim?
A
resposta nem sempre agrada, mas sempre vem com uma parcela maior de mim mesmo.
Portanto,
não me tirem a tristeza.
Não
essa de agora, que me afoga e me pressiona contra a consciência.
Me
refiro a toda tristeza possível.
Podes
me apontar amizade mais fiel?
Existe
algo de feliz na tristeza.
Não
sei se é sua obscura promessa de redenção
Não
sei se é sua presença límpida e sincera
Não
sei se é a distância implicada por sua ausência
Ou
mesmo a simples presença de seu oposto.
Apenas
sinto algo de mim na tristeza
Talvez
essas sejam as linhas mais baratas traçadas por mim em um papel.
Mas
talvez seja pela exigência simples que a tristeza me impõe.
As
linhas são tristes, tal qual seu objeto
A
cadência é triste, tal qual seu senhor.
Jamais
me furtarei o prazer de senti-la
Quem
negará que há algo de libertador na mais simples e pura tristeza?
Aliás!
Quem negará a presença da tristeza?
Não
me chamem de pessimista! Sou só eu mesmo voltando mais uma vez pra minha vida.
E
eis que ela aparece mais uma vez
Escarrando
em minha face a verdade.
Desnudando
a hipocrisia que em momentos prevalece.
Revelando
o egoísmo de cada traço.
Destronando
esse bufão de sua arrogância.
Desejaria
eu um “deus” mais particular que esse?
A
cada expressão a alma rejuvenesce.
A
tristeza me liberta!
E
quando eu perguntar por ela mais uma vez, lembrarei-me de sua última visita!
Explica-se
a simplicidade do verso quando a purificação se faz presente.
A
tristeza não permite capricho.
Não
é a parede branca à minha frente que exige porções harmônicas de uma cor
vivificante
Mas
sim a parede que se interpõe entre o olhar estéril e aquela.
Não
é o silêncio do quarto em volta que grita por uma nova melodia
Mas
sim o quarto vazio cuja porta se abre à força dessa fiel amiga tristeza.
Sua
promessa já não é mais obscura
Sua
presença já não é tão próxima
Sua
ausência já não é mais negada
O
que há de tão ruim na tristeza para ela obter tanto desprezo?
Fuja
da tristeza como a lebre do lobo e ela te atingirá como um raio.
Deite-se
com a tristeza como com uma amante e ela te levará à loucura
Abrace
a tristeza como a um amigo e ela lhe será solidária
Sua
fidelidade é o compromisso com sua passagem
E
seu caminho é a porta de entrada para um dia de libertação
Em
cada passagem há um filho gerado
E o
alimento que lhe é dado deve ser sempre o adequado
Caso
contrário, sua força sugará sua visão, e o caminho da saída não será mais
agradável.
Lembre-se,
não é culpa da tristeza!
Que
jamais seja retirado de mim o direito de estar triste!
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