terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Uma poesia como café...


Tristeza
Thiago Oliveira

“Que nunca seja afastada de mim a tristeza
Não sei se conseguiria viver sem ela.
De todas as companheiras, a mais fiel.”
Qualquer traço mais medíocre interpretaria essa senhora com tais versos.
Mas não vejo saída.
Como se por algum momento optasse por obtê-la, a saída!
Somente os senhores de si conseguem tal façanha.
Eu prefiro a pergunta: o que você quer de mim?
A resposta nem sempre agrada, mas sempre vem com uma parcela maior de mim mesmo.
Portanto, não me tirem a tristeza.
Não essa de agora, que me afoga e me pressiona contra a consciência.
Me refiro a toda tristeza possível.
Podes me apontar amizade mais fiel?
Existe algo de feliz na tristeza.
Não sei se é sua obscura promessa de redenção
Não sei se é sua presença límpida e sincera
Não sei se é a distância implicada por sua ausência
Ou mesmo a simples presença de seu oposto.
Apenas sinto algo de mim na tristeza
Talvez essas sejam as linhas mais baratas traçadas por mim em um papel.
Mas talvez seja pela exigência simples que a tristeza me impõe.
As linhas são tristes, tal qual seu objeto
A cadência é triste, tal qual seu senhor.
Jamais me furtarei o prazer de senti-la
Quem negará que há algo de libertador na mais simples e pura tristeza?
Aliás! Quem negará a presença da tristeza?
Não me chamem de pessimista! Sou só eu mesmo voltando mais uma vez pra minha vida.
E eis que ela aparece mais uma vez
Escarrando em minha face a verdade.
Desnudando a hipocrisia que em momentos prevalece.
Revelando o egoísmo de cada traço.
Destronando esse bufão de sua arrogância.
Desejaria eu um “deus” mais particular que esse?
A cada expressão a alma rejuvenesce.
A tristeza me liberta!
E quando eu perguntar por ela mais uma vez, lembrarei-me de sua última visita!
Explica-se a simplicidade do verso quando a purificação se faz presente.
A tristeza não permite capricho.
Não é a parede branca à minha frente que exige porções harmônicas de uma cor vivificante
Mas sim a parede que se interpõe entre o olhar estéril e aquela.
Não é o silêncio do quarto em volta que grita por uma nova melodia
Mas sim o quarto vazio cuja porta se abre à força dessa fiel amiga tristeza.
Sua promessa já não é mais obscura
Sua presença já não é tão próxima
Sua ausência já não é mais negada
O que há de tão ruim na tristeza para ela obter tanto desprezo?
Fuja da tristeza como a lebre do lobo e ela te atingirá como um raio.
Deite-se com a tristeza como com uma amante e ela te levará à loucura
Abrace a tristeza como a um amigo e ela lhe será solidária
Sua fidelidade é o compromisso com sua passagem
E seu caminho é a porta de entrada para um dia de libertação
Em cada passagem há um filho gerado
E o alimento que lhe é dado deve ser sempre o adequado
Caso contrário, sua força sugará sua visão, e o caminho da saída não será mais agradável.
Lembre-se, não é culpa da tristeza!
Que jamais seja retirado de mim o direito de estar triste!

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