Para os alunos de Lógica, segue o texto do Mortari para baixar.
Abraços.
Thiago
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013
Informes
Olá todos!
Abraços
Thiago
Alguns me informaram sobre uma dificuldade em salvar os arquivos do slideshare, não sei se está acontecendo com todos. Fiz uma mudança na configuração de minha conta e espero ter resolvido. Mas ainda assim está complicado: 1º vá em 'share' e mande para seu email. 2º abra o email, haverá um link. 3º na página aberta tem a opção de salvar, mas precisa de cadastro no site. Enfim, acredito que mudarei esse esquema de compartilhamento de arquivos. Como sou marinheiro de primeira viagem nessa coisa toda, aqueles que já conseguiram salvar e quiserem informar aqui sobre como fizeram, ou dar alguma sugestão, sintam-se à vontade, e eu agradeço.
Abraços
Thiago
Texto inicial do curso de Metafísica
Segue o texto para as discussões inicias no curso de Metafísica.
Abraços
Thiago Oliveira
Baixar Pra quê Categorias
Abraços
Thiago Oliveira
Baixar Pra quê Categorias
Aula de Filosofia Moderna
Disponibilizo os slides para a introdução ao curso de Filosofia Moderna.
Abraços
Thiago Oliveira
terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013
Metodologia
Para os alunos de Metodologia, e os interessados, seguem as orientações para apresentação de trabalhos acadêmicos. O texto é bem didático e de fácil entendimento. Façam bom uso.
O causo do Anão fluorescente.
Silvano e o anão fluorescente
Thiago Oliveira
Era mais uma tarde ensolarada na cidadezinha de Tripolândia quando o velho grupo de amigos se reuniu na venda do seu Odair para mais uma roda de conversa e o tão aclamado apreciar da boca cachaça mineira. Já era de se esperar que eles começassem as apostas acerca da nova história mirabolante que seria contada por Silvano. Entre várias ideias, chegaram até cogitar um tubarão de água doce que saia todas as noites para flertar com Dona Germana, uma velha rabugenta que passava horas na porta de sua casa cuspindo no chão e chamando a todos que atravessavam a rua de "gente besta". Enfim, não foi dessa vez que acertaram, por mais que se pudesse esperar uma história de tamanha bizarrice. A história contada por Silvano aquele dia podia não envolver tubarão e velhas com humor de uma porta rachada, mas com certeza não ficaria muito atrás. E vocês descobrirão o porquê.
Naquela tarde, enquanto todos do grupo fechavam as apostas, chegou Silvano, e com a língua mais afiada que nunca, começou a tecer as palavras como quem tecia o mais rico tapete persa.
__ Muito boa tarde a todos. Já imagino que estão a falar de mim. Mas antes que me digam algo, saibam que quase morri, não faz nem vinte quatro horas.
__ Como assim Silvano? Vai inventar sua morte agora? Disse Terêncio, um dos mais céticos do grupo, quando se tratava das histórias de Silvano.
__ Oxê! Disse Silvano com uma altercação de espanto levando a mão ao primeiro copo de cachaça que encontrou no balcão. __ E desde quando invento Histórias? Quem quiser que não acredite, mas tudo que conto é caso verídico e de boa fé.
E com dedo em riste, olhou pra Terêncio e disse, depois de dar mais uma golada: __ Você que fique esperto, Terêncio! Tomara que esbarre com o anão, quero ver depois vir me dizer que eu estava certo.
__ Anão!? Perguntou Terêncio, enquanto olhava para os companheiros na esperança de ganhar um apoio para sua pergunta. __ Que história é essa? Nem tem anão aqui em Tripolândia. To achando que foi visitar seu amigo invisível, o tal do Cuei. E todos no bar deram uma risada desconfiada, já esperando a resposta nervosa de Silvano.
__ Vou te dizer viu!? Olhe só, vou contar pra vocês, e não se assustem, mas a coisa foi feia.
Nisso, todos já se empertigaram e ficaram atentos às palavras que se seguiriam. Até mesmo seu Odair, que se ocupava em bater uns panos de mesa do lado de fora da venda, veio correndo aos tropeços para ouvir a mais uma das mirabolantes histórias de Silvano, que desde o causo com o sapo carreteiro, sempre começavas suas histórias assim: __ E não é que eu tava com o Cuei de carro ontem de noite, na estradinha que vai pro estreito, quando o pneu estourou. Até que tava tudo bem! Descemos pra trocar o pneu, claro que eu fiquei só na manobra observando Cuei, dando umas coordenadas.
Nesse momento, todos se entreolharam, como que se já esperassem aquele tipo de atitude de Silvano, que não era muito dado a trabalhos manuais, preferia muito mais defender suas ideias. Sem dar muita importância, Silvano continuou.
__ Até que o Cuei nem demorou muito pra trocar o pneu, e enquanto conversávamos, ele me contou umas histórias de um anão fluorescente que andava na estradinha do estreito e que colecionava fotos 3x4 das pessoas que ele encontrava. Eu mesmo, que não sou muito dado a essas histórias não acreditei na hora, mas Cuei é meu amigo e de confiança, ele não ia inventar isso do nada.
Leôncio, o mais novo da turma, se segurava na cadeira para não rir com a conversa de Silvano. Foi quando ouviu Ronildo perguntar: __ Mas porque ele colecionava foto 3x4, Silvano? E como ele conseguia essas fotos? Embora fizesse cara de sério, Ronildo era sempre sarcástico, o que não agradava muito Silvano, que não deixou por menos e logo retrucou.
__ Rapaz, escute primeiro! Nem eu acreditei quando ouvi, até acontecer o que aconteceu. E assim se deu a história do anão fluorescente contada por Silvano, que não foi mais interrompido.
__ Escuta bem Silvano o que vou te contar, mas não se assuste. Nessa estrada, diz o povo que sempre passa um anão que fica brilhando de noite. Eu mesmo nunca vi, mas muita gente jura de pé junto que já viu esse anão fluorecente várias vezes.
__ Do que você tá falando Cuei? Que história é essa? Perguntou Silvano, enquanto enrolava um fumo e observava o amigo afrouxar os parafusos da roda.
__ Do anão fluorescente, Silvano! Diz a história que ele sempre aparece de noite, rouba as carteiras das pessoas, mas só leva fotos 3x4, e quando não as encontra, ele leva um documento que tenha uma. E enquanto limpava o suor da testa, Cuei olhava para os lados quase que prevendo o que estava para a acontecer.
__ Olha Cuei, um sapo falante e capaz de correr já era algo absurdo pra eu aceitar, agora você quer que eu acredite em um anão que brilha de noite e rouba carteiras? Nessa altura, silvano já havia fumado metade do cigarro e começava a ficar impaciente com a história do amigo.
__ É sério Silvano, um conhecido meu que sempre passava por essa estrada me disse que a toca do anão ficava escondida perto do estreito.
Nisso, Silvano deu um soluço e quase engoliu o cigarro, pois sabia que o estreito, lugar bem conhecido da região e cheio de histórias estava próximo. O estreito era um trecho de estrada de terra bem fino que cortava duas serras e era caminho necessário para quem quisesse visitar a lagoa do espraiadinho.
__ Mas ele costuma sair da toca e atacar as pessoas, ou só quando alguém passa por lá que ele aparece? Perguntou Silvano já se borrando todo.
__ Até onde sei ele costuma sair de noite, e anda bastante. A gente podia tentar ver se o encontramos.
Quando disse essas palavras, Cuei nem se dignou a levantar a cabeça para Silvano, que ficou chocado com a proposta do amigo e retrucou.
__ Tá maluco!? Tenho medo de anão, embora nunca tenha visto um. Eles me assustam, imagina ver um brilhando e querendo roubar minha carteira.
__ Mas eu sei um modo de hipnotizar ele. Segundo meu amigo, quando ele aparece ele já começa a brilhar e olhar fixamente pra pessoa, mas se alguém acender um fogo, ele fica hipnotizado com a luz durante algum tempo. A gente podia tirar uma foto dele e depois sair correndo.
Por mais que achasse toda ideia absurda, Silvano pareceu interessado.
__ Mas vamos fazer fogo com o que? Perguntou sem se dar conta que estava segurando um isqueiro.
__ Ora, enrolamos um pedaço de pano em um pau, ateamos fogo, e enganamos o anão. Disse Cuei enquanto guardava o macaco no porta malas após terminar o serviço. __ A gente enxarca o pano com a gasolina do carro pra ficar mais fácil.
E Silvano aceitou a proposta e se pôs a procurar um pano, foi quando percebeu.
__ Não temos nada pra queimar, Cuei. Nem um pano velho no carro, nem papel, nada mesmo!
Nesse momento, Silvano percebeu que Cuei estava totalmente imóvel com as mãos sobre o carro, e percebeu que uma certa luz verde começou a tomar conta do lugar. Sem ainda se virar para trás, Silvano começou a trocar olhares nervosos com Cuei que ora fixava o olhar para algo a sua frente ora fixava o olhar em Silvano tentando lhe dizer algo. Foi quando Silvano criou coragem de olhar para trás e viu uma das cenas mais grotescas de sua vida. Logo a frente do carro, se deslocava lentamente uma figura de aproximadamente um metro, vestido com uma peça única de pano e oscilando um brilho verde intenso que poderia iluminar um salão inteiro. Nesse momento, sua alma se congelou, e Silvano ouviu a voz arrepiante do anão fluorescente que disse: __ O que temos aqui, nessa noite clara e cheia de surpresas? Duas almas solitárias esperando pelo toque suave das mãos desse anão iluminado. Você será o primeiro!
E com olhar direcionado para Cuei, o anão se pôs a caminhar lentamente em sua direção, e parecia exercer um certo poder sobre Cuei que ficou imóvel, foi quando este gritou para Silvano: __ Rápido, Silvano, não fica ai parado. Acende logo essa tocha!
__ Mas não tem nada pra eu queimar, seu maldito!
__ Usa sua camisa, desgraçado! Pelo amor de Deus, esse bicho tá rindo pra mim e to congelado de medo.
__ Mas essa camisa é presente da minha mãe. Não posso fazer isso com a velha.
Nesse momento, Silvano ameaçou correr, mas não podia fazer isso com seu amigo, foi quando teve uma ideia. Às pressas, tirou sua calça, enrolou-a no pedaço de pau que havia encontrado, e ateou fogo à mesma. Sem pensar muito, se jogou na frente do anão, só de cueca, bituca na boca e a tocha na mão, apontou essa para o anão que ficou estático no mesmo instante. Sem saber se estava funcionando, Silvano começou a gritar: __ Pare agora, seu anão miserável, ou jogo essa tocha em você agora mesmo. Nesse momento, sentiu uma mão em seu braço e uma voz dizendo: __ Vamos sair correndo daqui seu maluco, ele já está hipnotizado.
E os dois se puseram a correr desesperados, deixando o carro para trás, e as calças de Silvano em chamas, que corria agora só de botinas, a camisa ganhada da mãe e o resto da bituca pendurada em sua boca.
E foi assim que Silvano contou sua história para os amigos na venda do seu Odair, que mais uma vez ficaram abismados com a capacidade imaginativa e com a narração rica em detalhes feita por Silvano. E foi assim que toda a cidade de Tripolândia passou a ter conhecimento do anão fluorecente que roubava carteiras para colecionar fotos 3x4. E foi assim que Silvano e Cuei, o amigo até hoje desconhecido, fugiram do anão risonho e verde.
Nesse momento, todos se entreolharam, como que se já esperassem aquele tipo de atitude de Silvano, que não era muito dado a trabalhos manuais, preferia muito mais defender suas ideias. Sem dar muita importância, Silvano continuou.
__ Até que o Cuei nem demorou muito pra trocar o pneu, e enquanto conversávamos, ele me contou umas histórias de um anão fluorescente que andava na estradinha do estreito e que colecionava fotos 3x4 das pessoas que ele encontrava. Eu mesmo, que não sou muito dado a essas histórias não acreditei na hora, mas Cuei é meu amigo e de confiança, ele não ia inventar isso do nada.
Leôncio, o mais novo da turma, se segurava na cadeira para não rir com a conversa de Silvano. Foi quando ouviu Ronildo perguntar: __ Mas porque ele colecionava foto 3x4, Silvano? E como ele conseguia essas fotos? Embora fizesse cara de sério, Ronildo era sempre sarcástico, o que não agradava muito Silvano, que não deixou por menos e logo retrucou.
__ Rapaz, escute primeiro! Nem eu acreditei quando ouvi, até acontecer o que aconteceu. E assim se deu a história do anão fluorescente contada por Silvano, que não foi mais interrompido.
__ Escuta bem Silvano o que vou te contar, mas não se assuste. Nessa estrada, diz o povo que sempre passa um anão que fica brilhando de noite. Eu mesmo nunca vi, mas muita gente jura de pé junto que já viu esse anão fluorecente várias vezes.
__ Do que você tá falando Cuei? Que história é essa? Perguntou Silvano, enquanto enrolava um fumo e observava o amigo afrouxar os parafusos da roda.
__ Do anão fluorescente, Silvano! Diz a história que ele sempre aparece de noite, rouba as carteiras das pessoas, mas só leva fotos 3x4, e quando não as encontra, ele leva um documento que tenha uma. E enquanto limpava o suor da testa, Cuei olhava para os lados quase que prevendo o que estava para a acontecer.
__ Olha Cuei, um sapo falante e capaz de correr já era algo absurdo pra eu aceitar, agora você quer que eu acredite em um anão que brilha de noite e rouba carteiras? Nessa altura, silvano já havia fumado metade do cigarro e começava a ficar impaciente com a história do amigo.
__ É sério Silvano, um conhecido meu que sempre passava por essa estrada me disse que a toca do anão ficava escondida perto do estreito.
Nisso, Silvano deu um soluço e quase engoliu o cigarro, pois sabia que o estreito, lugar bem conhecido da região e cheio de histórias estava próximo. O estreito era um trecho de estrada de terra bem fino que cortava duas serras e era caminho necessário para quem quisesse visitar a lagoa do espraiadinho.
__ Mas ele costuma sair da toca e atacar as pessoas, ou só quando alguém passa por lá que ele aparece? Perguntou Silvano já se borrando todo.
__ Até onde sei ele costuma sair de noite, e anda bastante. A gente podia tentar ver se o encontramos.
Quando disse essas palavras, Cuei nem se dignou a levantar a cabeça para Silvano, que ficou chocado com a proposta do amigo e retrucou.
__ Tá maluco!? Tenho medo de anão, embora nunca tenha visto um. Eles me assustam, imagina ver um brilhando e querendo roubar minha carteira.
__ Mas eu sei um modo de hipnotizar ele. Segundo meu amigo, quando ele aparece ele já começa a brilhar e olhar fixamente pra pessoa, mas se alguém acender um fogo, ele fica hipnotizado com a luz durante algum tempo. A gente podia tirar uma foto dele e depois sair correndo.
Por mais que achasse toda ideia absurda, Silvano pareceu interessado.
__ Mas vamos fazer fogo com o que? Perguntou sem se dar conta que estava segurando um isqueiro.
__ Ora, enrolamos um pedaço de pano em um pau, ateamos fogo, e enganamos o anão. Disse Cuei enquanto guardava o macaco no porta malas após terminar o serviço. __ A gente enxarca o pano com a gasolina do carro pra ficar mais fácil.
E Silvano aceitou a proposta e se pôs a procurar um pano, foi quando percebeu.
__ Não temos nada pra queimar, Cuei. Nem um pano velho no carro, nem papel, nada mesmo!
Nesse momento, Silvano percebeu que Cuei estava totalmente imóvel com as mãos sobre o carro, e percebeu que uma certa luz verde começou a tomar conta do lugar. Sem ainda se virar para trás, Silvano começou a trocar olhares nervosos com Cuei que ora fixava o olhar para algo a sua frente ora fixava o olhar em Silvano tentando lhe dizer algo. Foi quando Silvano criou coragem de olhar para trás e viu uma das cenas mais grotescas de sua vida. Logo a frente do carro, se deslocava lentamente uma figura de aproximadamente um metro, vestido com uma peça única de pano e oscilando um brilho verde intenso que poderia iluminar um salão inteiro. Nesse momento, sua alma se congelou, e Silvano ouviu a voz arrepiante do anão fluorescente que disse: __ O que temos aqui, nessa noite clara e cheia de surpresas? Duas almas solitárias esperando pelo toque suave das mãos desse anão iluminado. Você será o primeiro!
E com olhar direcionado para Cuei, o anão se pôs a caminhar lentamente em sua direção, e parecia exercer um certo poder sobre Cuei que ficou imóvel, foi quando este gritou para Silvano: __ Rápido, Silvano, não fica ai parado. Acende logo essa tocha!
__ Mas não tem nada pra eu queimar, seu maldito!
__ Usa sua camisa, desgraçado! Pelo amor de Deus, esse bicho tá rindo pra mim e to congelado de medo.
__ Mas essa camisa é presente da minha mãe. Não posso fazer isso com a velha.
Nesse momento, Silvano ameaçou correr, mas não podia fazer isso com seu amigo, foi quando teve uma ideia. Às pressas, tirou sua calça, enrolou-a no pedaço de pau que havia encontrado, e ateou fogo à mesma. Sem pensar muito, se jogou na frente do anão, só de cueca, bituca na boca e a tocha na mão, apontou essa para o anão que ficou estático no mesmo instante. Sem saber se estava funcionando, Silvano começou a gritar: __ Pare agora, seu anão miserável, ou jogo essa tocha em você agora mesmo. Nesse momento, sentiu uma mão em seu braço e uma voz dizendo: __ Vamos sair correndo daqui seu maluco, ele já está hipnotizado.
E os dois se puseram a correr desesperados, deixando o carro para trás, e as calças de Silvano em chamas, que corria agora só de botinas, a camisa ganhada da mãe e o resto da bituca pendurada em sua boca.
E foi assim que Silvano contou sua história para os amigos na venda do seu Odair, que mais uma vez ficaram abismados com a capacidade imaginativa e com a narração rica em detalhes feita por Silvano. E foi assim que toda a cidade de Tripolândia passou a ter conhecimento do anão fluorecente que roubava carteiras para colecionar fotos 3x4. E foi assim que Silvano e Cuei, o amigo até hoje desconhecido, fugiram do anão risonho e verde.
domingo, 24 de fevereiro de 2013
Plano de curso
Para os alunos de Metodologia Jurídica, segue o plano de curso da disciplina. O mesmo será discutido em sala de aula.
Plano de curso
Para os alunos de Filosofia do Matutino, já disponibilizo o plano de curso para conferência. Esse plano será discutido em sala de aula.
If there's a key there must be a door!
Pra quem ainda não viu, segue aí a recomendação. Vejam o" Hobbit: uma jornada inesperada".
Para os aficionados nas histórias criadas por J.R.R. Tolkien, não preciso fazer a recomendação, acredito que já viram. O filme é razoavelmente fiel ao livro, e a direção de P. Jackson não deixa nada a desejar, assim como foi na trilogia Senhor dos Anéis. O próprio Peter já disse em entrevista que o Hobbit não pretende ser um filme aos moldes do TLR, mas em várias cenas ele consegue transmitir a mesma intensidade que conseguiu na trilogia. Já devo ter visto umas 5 vezes, mas tive que atender o pedido da Malu, que queria ver o anão e o "obite", como ela diz, e ver pela sexta vez. O que me fez prestar atenção numa frase interessante dita por Fili no início do filme: “if there's a key there must be a door!” "Se existe uma chave, deve haver uma porta!" Para os apaixonados por frases de efeito e trocadilhos filosóficos, essa seria uma frase bem interessante. O duro é encontrar a porta pra colocar a chave...
Abraços
Thiago
P.s: Sim, eu tenho uma versão pirata do filme que não está nas locadoras ainda...
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013
Documentário interessante. O diretor Pedro Arantes tenta colocar os dois lados da moeda (se é que é uma moeda de dois lados, e assim representando a situação de maneira maniqueísta) no humor brasileiro atual, e a discussão sobre o politicamente correto e o politicamente incorreto. É interessante notar os argumentos dos dois lados, e entre fortes premissas, e algumas falácias, uma coisa fica clara, a discussão não acabou e não é simples. Eu não posso dizer que optei 100% por um lado, portanto, deixarei vocês apenas com o documentário. Façam bom proveito, e se quiserem, comentem à vontade.
Abraços
Thiago Oliveira
terça-feira, 19 de fevereiro de 2013
Não há nada de novo no reino dos porcos...
"Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca."
Apocalipse 3:16
Apocalipse 3:16
Lembro-me muito bem, até hoje, das inúmeras e acaloradas reuniões que tivemos no nosso centro acadêmico no período de minha graduação em que fui coordenador. E me lembro muito bem de um dia específico, principalmente pela frase de um grade amigo e irmão, que entre sobressaltos e esperneio, esmurrava a mesa e gritava para os quatro cantos com aquela dicção atrapalhada: "bando de medíocres! Bando de medíocres!". Não é muito diferente o sentimento que me vem hoje. Mas não gostaria de apontar o dedo, até mesmo porque o sentimento é generalizado. E a crítica, assim como a intenção desse meu amigo aquele dia, é uma crítica ao culto à mediocridade. Medíocre, no seu sentido mais simples, significa estar na média entre dois termos de comparação, mas ao ganhar conotação negativa (como se já não fosse suficiente a partir do significado já dado), medíocre pode significar estar abaixo da média. Para este medíocre escritor, qualquer um dos significados seria suficiente para uma execração pública. No primeiro sentido, teríamos os velhos ditados como, "ficar em cima do muro", "não chove nem molha", "não cheira e nem fede", etc., como expressões populares capazes e traduzir uma das mazelas da sociedade contemporânea (não excluo as antigas, mas aponto esta). É absurdo como nos dedicamos em ser medíocres na acepção simples da palavra. Medíocres em nossos desejos, medíocres em nossas ideias (sempre presentes em nossas mentes), medíocres em nossas defesas de nossas ideias, medíocres em..., e assim por diante. Não é somente uma revolta em específico com uma determinada mediocridade que me faz escrever esse texto, uma mediocridade premiada com o anonimato, mas também o fato de que por inúmeras vezes me vejo sendo medíocre a tal ponto que essa atitude passa a ser cotidiana. e no fritar dos ovos, não ser medíocre parece ser estranho à sociedade. E o pior, a mediocridade parece despertar entusiasmo nas pessoas, uma ideia medíocre, quando acompanhada de defensores medíocres, e de expectadores medíocres, se torna muito mais encantadora do que uma grande ideia. Bom! Certamente o leitor poderia me perguntar agora: "mas quem define o que é uma grande ideia?"A resposta deste mentecapto pode não ser satisfatória, mas uma grande ideia não precisa de alguém a definindo como tal, ela se manifesta como tal quando as cabeças estão dispostas a aceitá-la enquanto uma grande ideia. Do contrário, a mediocridade predomina. Seja na educação, seja na política, seja na música, etc. Ser medíocre está na moda, e moda pega "filhão"! Como este texto também é medíocre, prefiro parar por aqui, mas uma coisa sei, detesto estar na moda...
Thiago Oliveira
P.s: a imagem tem um propósito, sim! Entenda, e não será tão medíocre...
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013
Uma poesia como água...
Quando “ele” nasce
Thiago Oliveira
Atônito, estrugido, estéril, morbidamente consciente da carência manifesta.
Mesmo assim, permaneço-me imóvel diante da figura retrátil que oscila abaixo
de minhas pupilas.
Sarcasticamente preso até o último suspiro.
Irritantemente insistente. Apavorante.
Observo a ampulheta; nada se move.
Nem a mínima sombra deixa seu estado etéreo.
Penso nos vários segundos, minutos, sensações, movimentos, rejeições e seu
espaço perdido.
Nem uma gota sequer de suor é capaz de romper o gélido momento.
Quão deprimente é a seca pertinente!
Quão necessário é o momento da ausência!
Perfiladas, uma atrás da outra, as ideias se dirigem para fora.
A tranquilidade nunca incomodou tanto.
Um momento de descaso e a imobilidade se destrói.
Como demover o silêncio de seu estado mais precioso?
Como tornar calmo o que é sereno por essência?
Como destronar o assombro de sua pérfida cátedra?
Assim como o momento, as respostas se demoram.
Triste representação medíocre do mais puro estado da natureza humana.
Ao fundo, gargalhadas.
Irrompe-se em ódio a revolta dos petulantes.
“_Quem é você?!”, ele pergunta.
E como se do nada, a seta enruga o peito desnudo.
A calma já não mais se mistura.
Não há mais aquela ausência de movimento.
A inércia foi rompida, a fuga foi roubada, não há mais como se esconder.
Os passos pesam em direção à porta.
As gargalhadas se tornam a referência.
A força parece tomar conta do que antes havia sucumbido.
É o som do nascimento.
Não há mais lugar para fugir.
Ele chegou! O medo.
Insônia...
" Até da insônia o pensamento tira proveito. Como? Pensando." Sabino de Campos
A frase desse contista e poeta brasileiro traduz bem um uso que tenho feito dessa maldita companheira (rsrs). É interessante como o pensamento pode tirar proveito inclusive daquilo que o atormenta constantemente. Em uma das visitas que essa "garbosa senhora" me fez, tive a oportunidade de refletir sobre um ponto que gostaria de comentar aqui, a saber, o poder de uma ideia. Não sei se ficarei só nesse post referente a esse assunto, até mesmo porque estou escrevendo de supetão graças à minha amiga que resolveu me visitar de novo.
A próxima frase pode até ser uma falácia, mas vou me permitir nesse ensaio uma certa liberdade poética. Sendo assim, parece que todo mundo tem, já teve, vai ter, ou adora ter uma ideia pra se defender com unhas e dentes, para se agarrar a ela, ou a elas, e fazer dessas ideias o fim último de suas atividades. Eu pessoalmente não vejo problemas quanto a isso. Aliás, vejo problemas em quem diz que não tem uma..., acho improvável. Ter uma ideia pra se defender nos dá um sentimento de pertencimento, seja a um grupo (de qualquer tipo), seja a uma ideologia (como diria Cazuza). Enfim, parece que precisamos das ideias. E pra felicidade dos platônicos, esse aristotélico aqui tem que admitir o poder criador, mas também destruidor, das ideias. Nesse momento mesmo, uma única ideia me faz criar esse texto, e ao mesmo tempo me retira o sono e abre as portas para aquela maldita senhora que citei mais acima. Ao mesmo tempo, uma ideia pode ser criadora e destruidora, ao mesmo tempo, uma ideia é sempre uma ideia.
Não vou fazer críticas às inúmeras ideias espalhadas por aí e que não concordo, nem fazer defesa das várias que construíram minhas opiniões e substituíram outras. Isso mesmo! Substituíram! Porque não acredito que uma ideia seja destruída, ela pode ser no máximo esquecida e colocada em estado de hibernação, pode ser facilmente substituída, mas uma vez criada, uma ideia é à prova de destruição. Também não vou dizer qual é a ideia que, ou as ideias que me atormentam. Apenas gostaria de aproveitar essa insônia de um modo razoavelmente produtivo pra começar uma análise que certamente irá se estender a outros posts, o de que sem ideias nada somos. E não importa qual seja a ideia, sempre haverá uma para se cogitar. E sempre cogitaremos uma, defenderemos uma, criticaremos uma, omitiremos uma, desejaremos uma, etc. O problema é não estar apto a defender a ideia que supostamente defendemos. O problema é ter medo de uma ideia e não saber lutar com ou contra ela. Nesse sentido, uma ideia, enquanto ideia, jamais será errada, mas ao se chocar com outras ideias, ela se tornará passível de avaliação. Isoladamente, uma ideia chega a ser até inofensiva, apenas uma ideia, mas posta em movimento, se comparada a outras, uma ideia pode ser tornar um problema, pode se tornar uma solução, passa a ser uma ideia como a conhecemos. Nesse momento mesmo, a ideia defendida nesse texto chulo, de que ideias estão sempre presentes na mente humana e possuem as características aqui já elencadas, ela pode encontrar uma outra inversamente proporcional cuja existência vise somente a negação desta. Um leitor pode muito bem se manifestar e dizer que ideias não possuem tais características, mas isso não destruirá a minha ideia de que ideias estarão sempre presentes na mente humana, seja construindo algo, ou destruindo algo. Assim como uma única ideia passa por minha cabeça agora e me faz chocar os dedos contra o teclado numa tentativa vã de consolo, tenho plena certeza que no mínimo uma ideia passa pela SUA cabeça ao ler essa porcaria de post...
Como diria V, "ideias são à prova de balas...", eu acrescentaria algo mais, e diria que ideias são como balas, como facas, ideias são apenas ideias...
Thiago Oliveira
P.s: detesto quando pareço hegeliano...
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013
Breve análise sobre o PNC
Partilho com vocês um trabalho simples que apresentei para meu grupo de estudos na Unicamp. Trata-se de uma breve análise sobre a formulação do princípio da não contradição no livro Gama da Metafísica de Aristóteles. O texto é bem técnico, mas para os interessados poderá ser de uma razoável valia.
Thiago Oliveira.
Uma poesia como pão...
A
causa e a pena
A
pena está pesada, o tempo está pesado
A
resposta tarda.
Eu
do lado de cá com cem grãos de consciência e o vazio me incomoda.
Não
é o humor, não é o temperamento, apenas não é.
E
o tempo pesa.
Consome
cada grão num anuncio desesperado.
E a
resposta tarda.
Intruso,
o devaneio se põe a silenciar o peso que se mascara.
Mas
o tempo não permite, e a resposta é falha.
Sob
que comando a pena volta a deslizar?
Uma
afronta a este peso seria o declínio?
Seria,
pelo menos?
Os
grãos se espalham e marcam os passos pesados em minha direção.
Surdez
e cegueira já não são má opção.
Por
que voltou a deslizar?
Agora
não é só o vazio que incomoda, como se seu oposto pudesse gerar o mesmo
desconforto.
“_
Se apegue aos clichês!”, grita o grão da esquerda.
Mas
a pena pesa, e a resposta tarda.
E na
esperança do vazio, que já não incomoda mais, tento ocultar o declínio.
E me
apego com força de que não só eu e os grãos saberemos.
Mas
o tempo pesa, e a certeza é falha.
Não
é medo da causa, mas de admiti-la.
Como
se evitar as consequências apontasse a contramão do declínio.
Agora
será assim.
Ao
acordar a pena, cada passo pesado será marcado com um grão.
Mas
o devaneio insiste em interromper.
Como
se eu não soubesse de sua armadilha preparada a cada curva marcada.
Seu
acordo com o tempo permitia a ilusão.
Sob
a pena ainda julgo registrar passos escuros.
Não
é o acordo do devaneio, mas meu com o tempo, se ele aceitar.
Pelo
menos pareço não fingir.
“_
Deixe aos intérpretes, eles dirão!”, retruca o grão da direita.
Mas
a pena pesa e a certeza é falha.
E
não é que o sarcasmo se tornou a fuga.
O
tempo todo, mesmo sob o peso que marcara os grãos, foi a resposta que antes
tardara.
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013
Um vídeo pra (não)relaxar...
Um excelente vídeo, que já havia visto há um tempo. Recomendo que também vejam. Não vou postar nenhum comentário adicional porque não estou com paciência no momento (rsrsr). Mas espero que gostem e analisem.
Abraços
Thiago Oliveira
Virtude em Aristóteles
Texto de meu orientador, Prof. Dr. Lucas Angioni.
Façam bom proveito.
Abraços
Thiago Oliveira
Informes
Mais arquivos foram colocados no meu slideshare. Fiquem atentos, e aceito pedidos.
Abraços
Abraços
Thiago Oliveira
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013
A lenda do sapo carreteiro
O causo do sapo carreteiro
Silvano sempre foi um
cara cheio de histórias. Não tinha um dia sequer que não chegava à vendinha do
seu Odair e enchia o ouvido de todos com um de seus famosos causos ou ideias
mirabolantes. Todos da pequena cidadezinha de Tripolândia já conheciam as
façanhas e histórias de Silvano. Entre vários apelidos que os cidadãos da
cidade lhe davam, estavam de “senhor das moscas”, “deus da sabedoria”, “bateria
do conhecimento”, “rei dos eventos futuros”, ou simplesmente “Doutor”. Por esse
último, convenhamos, ele tinha um certo apresso, e por vezes até utilizava o
título de maneira abusiva, mas nada que causasse incômodo nos cidadãos da velha
Tripolândia, que adoravam ouvir e comentar seus causos. Todos os sábados alguns
dos trabalhadores da cidade se reuniam na vendinha do seu Odair, para o velho e
saboroso apreciar da boa cachaça. Era um grupo já conhecido, e bastante próximo
de Silvano, de modo que todos chegavam mais cedo para apostar que tipo de
história Silvano teria para contar. E tudo começou com a história do sapo
carreteiro.
Em uma de suas andanças
pelas terras ermas de Tripolândia, Silvano encontrou um dia seu grande amigo,
porém invisível aos olhos dos companheiros da vendinha do seu Odair, Renan
Coelho, mas que passou a ser chamado por Silvano de “Cuei”. A história começa
aqui.
Depois da ribanceira do
espraiadinho, tinha uma velha represa há muito abandonada, quase ninguém aparecia
por lá. Peixe não tinha; água pra nadar tinha na lagoa do seu Jóca, mas por
algum motivo foi nessa represa que Silvano encontrou Cuei e com ele fez uma
longa e frutífera amizade, cheia de histórias.
Era umas 15:30 hs, quando
Silvano passou pela represa e viu um certo indivíduo abaixado e conversando com
algo no chão, sem entender aquilo, Silvano resolveu perguntar:
__ Boa tarde, meu senhor!
__ Por enquanto sim, meu
companheiro!
__ Desculpe me intrometer,
mas não pude deixar de notar o senhor ai abaixado perto da represa e
conversando, mas o problema é que não vejo ninguém, por um acaso é doido? Silvano
sempre tinha um jeito “carinhoso” e “sutil” de dizer o que pensava.
__ Não senhor! Sou doido
não! Não vês o que estou a fazer?
__ Vê até vejo, só não
estou entendendo porque alguém falaria sozinho à beira de uma represa velha.
__ Estou convencendo o
sapo.
__ Depois me chamam de
doido! Convencendo o sapo?! Desculpe-me senhor, vou deixá-lo a sós com seu
sapo. Até mais ver!
__ NÃO FAÇA ISSO! E com o
grito, Silvano chegou a levar a mão até sua peixeira assustado.
__ E porque não? Disse
meio ofegante, enquanto soltava a mão da bainha.
__ O sapo não deixa.
Estou há quase uma hora tentando convencer ele de que não tinha intenção de
entrar em seu território. Você sabe não é?! Esses sapos são muito
territorialistas. Mas deixe me apresentar adequadamente, sou Renan Coelho.
__ Prazer! Silvano. Mas
me diga uma coisa. Você realmente acha que está falando com o sapo? Silvano
perguntou por uma curiosidade que sempre movia seu pescoço para os lados,
alguns diziam que ele tinha orelhas até nos cotovelos. Escutava tudo, e contava
tudo.
__ Se quiser meu amigo,
deixo o senhor tentar, já que também entrou no território dele, mas vou logo
avisando, ele não está de bom humor, e na primeira tentativa que fiz pra fugir,
ele quase me mordeu, ele é muito rápido, por sinal.
__ Me dá licença, vou lhe
mostrar que o senhor não está regulando bem. E assim, Silvano se agachou
próximo ao sapo que até então nem tinha visto. O mesmo estava de olhos bem
abertos e agora fixos em Silvano, o que já lhe causou certa estranheza. Ao
tentar aproximar sua mão do sapo, Silvano olhou pra trás na direção de Cuei
como quem dizia “veja que não há nada demais nesse sapo”, mas uma pata pegajosa
surgiu de repente e tocou a sua mão como que do nada, e Silvano se viu
congelado diante da situação. Aos poucos foi tentando voltar seus olhos para o
sapo, embora sabia que algo dentro dele dizia para correr. Ao olhar fixamente
para o animal, viu que o mesmo tinha levantado a pata direita e tocado sua mão
como que num sinal de proibição, e foi quando sua mente sofreu talvez o maior
choque.
__ O que pensa que está
fazendo? Não te dei liberdade para me tocar. Quero uma explicação do porquê
você e seu amigo vieram me incomodar nos meus domínios. Não vê que estou
protegendo meus filhotes? Exijo uma explicação e um pagamento, do contrário,
terei que aniquilar a todos.
Chocado, Silvano mal
conseguia afastar sua mão da pata “ensaboada” do sapo, e aos poucos tentava
recobrar os sentidos diante da cena inusitada. Olhou pro Cuei uma, duas, três vezes,
sem entender nada, foi quando do mais profundo do seu ser, conseguiu emitir as
palavras:
__ Senhor sapo, não quis
incomodar vossa senhoria, mas se me permitir, retirar-me-ei juntamente com meu
amigo o mais rápido possível, basta dizer o que temos que pagar. Foi quando ele
ouviu a proposta mais indecente de sua vida.
__ Preciso do dedão do pé
direito de cada um. E resoluto, o sapo tocou o próprio queixo. Sem saber o que
fazer, Silvano olhou para Cuei, que o chamou pedindo permissão ao sapo.
__ Senhor sapo, posso
confabular com meu amigo uma maneira de realizar esse pagamento? Ao que
respondeu o sapo de maneira irritada.
__ Que seja rápido! Tenho
que alimentar meus filhotes com esses dedos, para que eles possam desenvolver a
habilidade de correr. Nessa hora, os dois perceberam que o sapo falava sério, e
não teriam outra saída a não ser fugir.
__ O que vamos fazer?
Perguntou Silvano.
__ Não vou cortar meu
dedo, de jeito nenhum. Temos que enganar ele de algum modo. Você tem algo que
se pareça com dedo? Perguntou Cuei meio disperso enquanto olhava para os lados.
__ Ah sim? Sempre carrego
minha bolsa de dedos para essas ocasiões! Disse sarcasticamente Silvano
enquanto recebia uma olhada severa de Cuei.
__ Vamos ter que forjar
um então. Me dê seu fumo! Quando ouviu isso, Silvano pareceu mais insultado do que quando tinha ouvido a proposta do sapo.
__ E vou fumar o que
depois? A resposta parecia automática, mas só depois Silvano percebeu o que
dizia.
__ Tá bem! Tome! Mas o
que pretende fazer?
__ Você conversa com ele
enquanto faço os dedos falsos.
__ Mas vou dizer o que?
Perguntou angustiado.
__ Conte alguma história, sei lá, mas mantenha
a visão dele longe de mim.
__ Ao se aproximar do
sapo, Silvano percebeu que o mesmo estava irrequieto, agitado, e percebeu que
ele tinha muita habilidade nas pernas, andando rapidamente de um lado para o
outro, foi quando teve a ideia de perguntar como ele conseguia fazer aquilo.
__ Meu caro sapo! O meu
amigo Cuei está tentando se adaptar à ideia de perder o dedão, e pediu um pouco
de privacidade para pensar nisso. Durante esse tempo, será que o senhor poderia
me explicar como fará uso desses dedões e como o senhor adquiriu a habilidade
de falar e correr? O Sapo por um minuto pareceu desconfiado com aquele
interesse, mas demonstrou-se bastante solicito.
__ É simples, alguns
animais possuem a capacidade evolutiva da linguagem, isso não foi diferente na
minha espécie. Já os dedões, darei para meus filhotes comerem, assim como meu
pai fez comigo, e ao ingeri-los eles desenvolverão a habilidade de correr. Foi
nessa hora que Silvano teve outra ideia brilhante, mas precisaria da ajuda de
Cuei para executá-la.
__ Vou ver se o Cuei já
está preparado, mas antes, gostaria de fazer uma aposta com o senhor. O pedido
não poderia ser mais oportuno. O Sapo demonstrou tanto interesse que pareceu
até manifestar um olhar de deboche para Silvano, que prosseguiu.
__ Porque não apostamos
uma corrida? Se o senhor ganhar, dou-lhe os dois dedões meus, se eu ganhar,
vamos embora e nunca mais o incomodamos. De qualquer modo o senhor não perde
nada.
O Sapo ficou pensativo, e
com olhar fixo em Silvano disse: __ Aceito! Mas com uma condição, de que seu
amigo também me dê os dois dedões. O pedido era complicado, pensou Silvano, mas
se convencesse Cuei da proposta, o plano daria certo.
__ Falarei com meu amigo
agora, e volto para ter com o senhor. Ao caminhar em direção a Cuei, Silvano observou
que o Sapo estava bastante empolgado com a corrida e chegava a dar saltos
comemorativos, como quem já estivesse cantando vitória, foi quando viu o
desespero de Cuei e perguntou.
__ O que aconteceu?
__ Fumei!
__ Como assim?
__ Fumei tudo, Silvano!
Tava nervoso, pensando num jeito de ajeitar os dedões, mas pra pensar melhor
preciso fumar um, daí enrolei um, enrolei outro, daí já viu né?
Silvano parecia muito
mais nervoso com o fato de Cuei ter fumado tudo do que com a noticia de que o
primeiro plano não havia dado certo.
__ Sem problemas, seu
viciado! Mas depois de hoje vai me pagar um mês de fumo na venda do Odair. Faça
o que eu te disser. Tive uma ideia melhor. Você vai admitir que aceitou dar
seus dois dedões para o Sapo e vou colocá-lo como Juiz da corrida.
__ Quê corrida? Tá louco?
Meus dois dedões? Interrompeu desesperado Cuei.
__ Fique tranquilo, sou
ótimo corredor e esse sapo é muito metido. Você vai ficar parado e dar a
largada, quando a gente começar a correr, você vai para a direita e corre feito
louco, praquele lado só tem bambuzal, ele não vai se arriscar lá, eu vou correr
pra esquerda e confundir ele. Mas lembre-se, quando sair correndo, preciso que
grite bem alto “vou comer a filha do sapo”.
__ Mas porque gritaria
isso? Perguntou abismado Cuei.
__ Porque ele vai ficar
ofendido, e se entendi bem, a coisa aqui é de família. Faça como disse, e vamos
sair logo.
Não deu outra, os dois se
dirigiram ao Sapo, e Silvano anunciou os termos da corrida. Ao concordar, os
dois se dispuseram um ao lado do outro, enquanto Cuei ficou parado esperando
para dar a largada. E assim o fez. O Sapo disparou ao lado de Silvano, que
mostrou bastante habilidade na arte de correr, um olhando pro outro, nessa hora
Cuei deu o grito e saiu correndo. Revoltado, o sapo percebeu tudo e resolveu
tirar satisfação com Silvano que já conseguia manter certa distância quando
levou o maior susto de sua vida ao ver o sapo preso à sua bunda que com olhar
furioso ainda disse: __ Me enganou seu safado, mas vou marcar sua bunda pra
sempre.
E foi assim que Silvano,
o doutor, conheceu o sapo carreteiro, como passou a ser chamado em toda a
cidade, e foi assim que ele conheceu Renan coelho, o Cuei, e foi assim que ele
contou pra todos os amigos na vendinha do seu Odair. E quando lhe perguntam da
marca..., bom..., essa ele reluta até hoje em mostrar.
terça-feira, 12 de fevereiro de 2013
Uma poesia como café...
Tristeza
Thiago Oliveira
“Que
nunca seja afastada de mim a tristeza
Não
sei se conseguiria viver sem ela.
De
todas as companheiras, a mais fiel.”
Qualquer
traço mais medíocre interpretaria essa senhora com tais versos.
Mas
não vejo saída.
Como
se por algum momento optasse por obtê-la, a saída!
Somente
os senhores de si conseguem tal façanha.
Eu
prefiro a pergunta: o que você quer de mim?
A
resposta nem sempre agrada, mas sempre vem com uma parcela maior de mim mesmo.
Portanto,
não me tirem a tristeza.
Não
essa de agora, que me afoga e me pressiona contra a consciência.
Me
refiro a toda tristeza possível.
Podes
me apontar amizade mais fiel?
Existe
algo de feliz na tristeza.
Não
sei se é sua obscura promessa de redenção
Não
sei se é sua presença límpida e sincera
Não
sei se é a distância implicada por sua ausência
Ou
mesmo a simples presença de seu oposto.
Apenas
sinto algo de mim na tristeza
Talvez
essas sejam as linhas mais baratas traçadas por mim em um papel.
Mas
talvez seja pela exigência simples que a tristeza me impõe.
As
linhas são tristes, tal qual seu objeto
A
cadência é triste, tal qual seu senhor.
Jamais
me furtarei o prazer de senti-la
Quem
negará que há algo de libertador na mais simples e pura tristeza?
Aliás!
Quem negará a presença da tristeza?
Não
me chamem de pessimista! Sou só eu mesmo voltando mais uma vez pra minha vida.
E
eis que ela aparece mais uma vez
Escarrando
em minha face a verdade.
Desnudando
a hipocrisia que em momentos prevalece.
Revelando
o egoísmo de cada traço.
Destronando
esse bufão de sua arrogância.
Desejaria
eu um “deus” mais particular que esse?
A
cada expressão a alma rejuvenesce.
A
tristeza me liberta!
E
quando eu perguntar por ela mais uma vez, lembrarei-me de sua última visita!
Explica-se
a simplicidade do verso quando a purificação se faz presente.
A
tristeza não permite capricho.
Não
é a parede branca à minha frente que exige porções harmônicas de uma cor
vivificante
Mas
sim a parede que se interpõe entre o olhar estéril e aquela.
Não
é o silêncio do quarto em volta que grita por uma nova melodia
Mas
sim o quarto vazio cuja porta se abre à força dessa fiel amiga tristeza.
Sua
promessa já não é mais obscura
Sua
presença já não é tão próxima
Sua
ausência já não é mais negada
O
que há de tão ruim na tristeza para ela obter tanto desprezo?
Fuja
da tristeza como a lebre do lobo e ela te atingirá como um raio.
Deite-se
com a tristeza como com uma amante e ela te levará à loucura
Abrace
a tristeza como a um amigo e ela lhe será solidária
Sua
fidelidade é o compromisso com sua passagem
E
seu caminho é a porta de entrada para um dia de libertação
Em
cada passagem há um filho gerado
E o
alimento que lhe é dado deve ser sempre o adequado
Caso
contrário, sua força sugará sua visão, e o caminho da saída não será mais
agradável.
Lembre-se,
não é culpa da tristeza!
Que
jamais seja retirado de mim o direito de estar triste!
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013
Crônica
Os dois lados de uma mesma moeda
Thiago Oliveira
O que me atestam os olhos?!
Não era uma altercação de espanto, mas opróbrio. Gratuito como um sopapo, assim
granjeei o infortúnio.
Não o meu, que de mim nada se queixa além das rixas cotidianas, mas o alheio.
E será que era alheio? Se era, porque tamanho achaque? Não era meu pra reclamá-lo.
Ou de algum modo o era?
Mas da mesma janela, que dizem ser da alma, não há como expulsar tal demônio
assimilado.
Talvez com uma máquina, um retrato e um prêmio, exorcizasse mea culpa. E em uma
daquelas prateleiras ensaboadas dependurasse a memória de um resgate imaginário,
contando aos pares uma suposta alteridade.
Enfim, não se deu assim o caso, e a sombra do passado insistiu na companhia.
Quem sabe era o medo de me encontrar eu presente na próxima imagem.
Quem sabe era o embaraço da inépcia perante o absurdo.
Quem sabe...?
Assim, registrou-se mais um passo no caminhar de uma memória encharcada de
omissões.
Mas curiosos, seus pares se perguntam, o que haveria de causar tanta vexa?
Que representação carregaria consigo tamanha ignomínia?
E eis que pinto novamente o quadro, ainda com os traços vívidos da mórbida sensação
de esterilidade.
De um lado o branco, em sua majestade histórica e representação feminina, trajando o
mais belo poder de dominação ideológica e econômica, esbanjando sua rica felicidade
abrolhada da genuflexão de “raças” assumidas mais abjetas, burlando qualquer
desconforto distante, e estadeando o produto de seu ventre delicado sobre rodas cujo
ruído esganiça o ouro de um passado que jamais fará sombra em uma varanda burilada
aleivosamente. Fitando sempre adiante, não há olhar periférico que a desnorteie, a não
ser que o assombro lhe atravesse os olhos, e a um só brado todo o orbe se ajunta em
resgate. Não. Ela jamais olharia para o lado.
Entre os dois mundos era preciso um ignaro, um transeunte anômalo e de consciência
pérfida, cuja visão guardava um resto de dignidade.
E foi assim que no mesmo quadro ele mirou o outro lado da ironia. O negro, em sua
obsolescência histórica e representação feminina, trajando o consagrado descaso social
de outrora, reprimindo sua abissal consternação parida a contragosto pelos obstetras da
mais alva epopéia cotidiana, avocando enganadoramente como sua a ledice alheia,
deitando sobre o asfalto candente um olhar de uma vexa que lhe foi imposta, e com o
restante de dignidade em seus braços impelia o resultado agonizante de seu bandulho
pecaminoso sobre um amontoado de metal frio conectado a anéis emperrados cujo
esganiço ressaltava a alvura de uma consciência solidária a seu infortúnio. Ela olhou
para o lado, há de se notar que ela olhou. Antes mantivesse o caminho e a ignorância do
momento, que certamente lhe montava em escárnio. Mas ela olhou. E sem resposta,
sabe-se lá de onde, ela retornou a seu germino como quem retorna ao medo após o
assombro.
E quanto àquele transeunte que agora vos fala, estatelou a planta dos pés como quem
assenta a viga fundamental, e insistiu em fitar a contradição por mais tempo do que sua
sanidade permitira. Enfim, a memória não perdoa, embora o omisso se mantenha reto
em sua carreira de ignorar. Seu único lamento? Não ter aquela velha máquina, para
limpar a consciência numa prateleira ensaboada.
Como gosto de Rosa, como sou Floyd!
O título pode ser sugestivo pra alguns, mas gostaria de manifestar minha predileção por essa banda que, para mim, foi mais que uma simples banda de Rock. Como gosto do Pink Floyd!
Ao pensar em qual seria a primeira postagem mais específica deste blog, várias ideias se passaram por essa cabeça agitada que vos escreve, pensei em falar sobre minhas últimas ideias em Filosofia, sobre filmes, sobre aulas, colocar algumas poesias, mas acabei ligando o som em meu note e nada mais nada menos que a obra The Wall me convenceu de que meu primeiro post deveria ser sobre minha banda predileta, e sobre meu álbum de música predileto (e que já perdi as contas de quantas vezes escutei, inclusive agora enquanto escrevo e escuto goodby blue sky). Não vou ficar aqui fazendo referência a datas ou informações gerais sobre o álbum que foi posteriormente adaptado para o cinema por Alan Parker 1982 como gênero musical. Prefiro dar algumas impressões iniciais sobre as músicas e postar uma resenha interessante que já havia lido sobre o filme.
A maioria das músicas foi composta por Waters, algumas em conjunto com Gilmour, com exceção de The trial que tem a presença de Bob Ezrin, e boa parte da história é uma referência à vida pessoal de Waters. Desde o início das músicas, pode se sentir o peso do baixo do vocalista. O álbum é conceitual, o que dá às músicas uma linha de pensamento contínua, fazendo com que o ouvinte entre na história contada e acompanhe os fracassos e reviravoltas na vida de Pink, o personagem principal de toda a obra. Toda a obra é bastante envolvente. A riqueza das harmonias e melodias das músicas, característica marcante da banda, fica nítida desde o início. Deixo aqui registrada minha preferência pela música comfortably numb (com vídeo do lado), sensacional! A obra consegue reunir críticas ao sistema educacional, à cultura bélica, às repressões morais e culturais das sociedades ocidentais, etc. Poderia ficar aqui o dia todo rasgando seda para banda e para o álbum, mas prefiro recomendar que todos escutem e vejam o filme, cuja análise segue abaixo.
Abraços
Thiago Oliveira
Publicado em 26/01/2011 por Fábio S. Ribeiro Análise
Aviso: por se propor a fazer interpretações subjetivas do filme, o texto revela diversos acontecimentos, inclusive o final. Portanto, recomendo que assistam o filme antes de ler além da introdução.
PINK FLOYD THE WALL (Reino Unido, 1982)
Dir. Alan Parker
I. Introdução – Floyd
O filme “The Wall” é uma obra fruto da imaginação criativa de três pessoas: Roger Waters (roteiro, música), Alan Parker (direção) e Gerald Scarf (animações). A estória, criada pelo então líder do Pink Floyd, trata-se em parte de uma semi auto-biografia, mesclando acontecimentos que fizeram parte da vida do compositor com eventos fictícios.
Antes de se iniciar a análise do filme, faremos um breve “passeio” pela história do Pink Floyd, para entendermos melhor os motivos que levaram Waters a criar “The Wall”.
Após a saída (ou expulsão) de Syd Barret, primeiro líder da banda em meados de 1968, o Floyd deixou de ter uma figura criativa central, passando por um longo período “democrático” (de 68 a 75) em relação à liberdade de composição pelos quatro membros do grupo. Entretanto, a partir do álbum “Animals”, de 1977, Waters passou a dominar a atividade criativa na banda. Nessa época, o Floyd já atingira o estrelato e começava a ser visto como um “dinossauro” do rock por parte da juventude da época, que questionava a estética musical da primeira metade dos anos 70 (leia-se a complexidade do rock progressivo em detrimento de um som mais básico, acessível). Tal repulsa ao rock mais trabalhado ficou imortalizada na camisa usada na época pelo líder dos Sex Pistols, banda seminal do movimento punk inglês: “I hate Pink Floyd”.
Durante um show da turnê de “Animals”, Waters, de cima do palco, cuspiu no rosto de um dos fãs na platéia que tentava agarrá-lo. Depois do show, refletindo sobre o episódio, ele percebeu a que ponto chegara sua relação com o público. Ele deixara de ser um músico expositor de sua arte, se tornando um ditador da mídia, vomitando entretenimento sobre as massas, um público agora bem distante dele. Waters percebeu que fora criado um muro entre ele e a platéia, impedindo uma comunicação real e sincera entre ambos. Surgia então o embrião de “The Wall”.
O álbum foi lançado em 1979, contando com uma mega turnê de divulgação regada de efeitos especiais milionários: um gigantesco muro sobre o palco que era derrubado ao final do espetáculo, uma banda falsa (“surrogate band”) usando máscaras para enganar a platéia, marionetes gigantescas etc. Três anos depois, seria lançado o filme, de Alan Parker.
II. Patinando sobre o gelo fino da vida moderna
“The Wall” conta a estória de Pink (vivido pelo cantor irlandês Bob Geldof), um astro do rock, a partir de suas memórias no exato momento em que ele está tendo um surto. Através das imagens criadas por Alan Parker e Gerald Scarf, somos apresentados a todos os fatores traumáticos na vida de Pink que o levaram a esse ponto.
O filme abre com a imagem do corredor de um hotel na América, onde Pink está hospedado. Ao fundo podemos ouvir uma antiga canção da década de quarenta (“The boy that Santa Claus forget”, de Vera Lynn). A presença dessa música é o primeiro sinal de que estamos entrando nas memórias de Pink, indo direto às suas origens, ao seu passado.
Vemos então um soldado preparando sua arma antes de ir ao campo de batalha. Trata-se do pai de Pink. Aqui entra em evidência um dos fatos mais importantes na vida de Roger Waters, a perda de seu pai na Segunda Guerra Mundial, sem ao menos conhecê-lo. Este acontecimento, de grande influência em sua formação, refletiu em grande parte de sua obra, através de críticas ao belicismo.
De volta ao presente do filme, vemos o protagonista completamente desligado da realidade, quando é interrompido pela faxineira do hotel batendo à porta. Rompem-se os portões.
III. In the Flesh
Alan Parker capturou imagens na canção “In the Flesh?” que representam diversos eventos relacionados com a história de Waters, e que mais tarde retornarão ao enredo do filme. Temos a ditadura do artista em relação à platéia, as violentas cenas desta adentrando o local do show e sendo reprimida pela polícia nas ruas, intercaladas com cenas do campo de batalha na Segunda Grande Guerra, terminando com a morte do pai de Pink.
Alheia à morte do marido, a mãe de Pink descansa em um jardim, ao lado do filho, ainda um bebê. Waters começa a destilar seu veneno, através das críticas aos males da sociedade do século XX.
Vemos o pequeno Pink brincando dentro de uma catedral, enquanto sua mãe ora pelo marido morto em combate. No parque, o menino começa a sentir a ausência da figura paterna ao observar um pai brincando com seu filho. Ao tentar se aproximar dos dois, ele é duramente rechaçado pelo homem.
Em uma cena seguinte, Pink, um pouco mais velho, mas ainda criança, acha em casa os pertences do pai e passa a contemplar o motivo de sua ausência: morto em combate a serviço do império britânico. A música executada durante essa cena, “When the Tigers broke free”, fora feita especialmente para o filme (ela não consta no álbum de 79*).
IV. Imagens infilmáveis
Incumbido de tornar reais imagens que só poderiam existir dentro da mente humana, o animador Gerald Scarf conseguiu criar um universo sombrio a partir de de uma visão altamente pessoal. Através de formas contorcidas, criaturas mutantes, muito sangue, carne e violência, o resultado final é uma das mais originais obras de animação já criadas.
“Goodbye, blue sky”, uma belíssima canção, contrasta com as fortes imagens criadas por Scarf, onde ele mostra o pesadelo que poderia se tornar realidade em mais críticas a Estados beligerantes.
V. Tijolos no muro
Waters mais uma vez faz uso de seus próprios traumas pessoais, e aproveita para criticar o cruel sistema educacional inglês, responsável pela (desin)formação de toda sua geração. Ele inicia sarcasticamente com “The happiest days of our lives”, literalmente destruindo a moral daqueles rígidos educadores, que descontavam suas frustrações pessoais nos alunos:
“But in the town it was well known when they
got home at night, their fat and psychopathic wives
would thrash then within the inches of their lives”
Quando inicia “Another brick in the wall part 2”, vemos os alunos usando máscaras sem face, marchando em fila. De cara, Waters expõe sua visão sobre os objetivos da formação que tivera: moldar de forma segura e padronizada os tijolos (alunos de hoje, cidadãos de amanhã) que formariam o grande muro (a sociedade inglesa) no futuro, destruindo qualquer resquício de individualidade e criatividade. Basta ver a cena onde o professor ridiculariza o poema de Pink em sala de aula. Por curiosidade, o poema é a letra da música “Money”, do álbum “Dark Side of the Moon”, o maior sucesso comercial do Pink Floyd e um fenômeno da indústria fonográfica – até hoje é um dos álbums mais vendidos da história.
Irrompe a revolução dos alunos, que destroem a escola e perseguem os professores, mas que no final nada mais é do que a imaginação de Pink, após ter sido humilhado pelo professor. Não é a toa que essa música se tornou hino de segmentos oprimidos em diversas partes do mundo.
VI. Mama’s gonna check out all your girlfriends for you
Temos agora que Pink, não conseguindo contactar por telefone a esposa na Inglaterra, passa a sentir a falta do carinho materno. Parker evidencia durante “Mother” a relação edipiana entre mães e filhos, intercalando cenas de cuidado materno com cenas da evolução da sexualidade de Pink, indo desde as primeiras descobertas, passando pelo seu casamento e chegando à crise conjugal. Vemos as mazelas trazidas pela fama e o esgotamento criativo, levando ao distanciamento da esposa, que irá buscar o afeto negado nos braços de um amante.
Indo em sentido um pouco diferente, mas dentro do mesmo contexto das imagens, a letra de Waters ressalta a super-proteção materna.
Uma belíssima cena merece destaque: Pink, impossibilitado de receber o afeto da esposa, assume a posição fetal, simbolizando a necessidade da proteção materna.
VII. Consciência e inconsciência
Novamente temos as animações de Scarf materializando o lisérgico som do Floyd e a ácida poesia de Waters. Na instrumental “Empty Spaces”, as incríveis imagens de duas flores que se transformam em dois corpos fazendo amor, terminando com a fêmea assumindo a imagem de um monstro e devorando o macho, é talvez o ponto mais criativo de sua carreira (e até do filme).
Dando seqüência, em “What shall we do now?” (música que ficou de fora do álbum de 1979 por questões técnicas da época: falta de espaço no disco de vinil…), as animações passam a interagir com as críticas de Waters ao consumismo (e talvez a todo o sistema capitalista), e seus males à sociedade.
VII. Gilmour e a luxúria juvenil
Surge a primeira participação de outro membro do Floyd em “The Wall”. A música “Young Lust”, parceria de Waters com o guitarrista David Gilmour – que liderou a banda após a saída de Waters, em 1984 – nos apresenta a tentativa de Pink em buscar a companhia de outra mulher, e talvez de se vingar de sua esposa infiel. No filme, foi feita a opção por mostrar durante essa música, o universo das “groupies”, fãs de artistas que fazem qualquer coisa para estarem perto de seus ídolos.
Uma das garotas chama a atenção de Pink, e este acaba a levando para seu quarto de hotel.
IX. “Careful with that axe, Eugene…”
Pink surta de vez e começa a destruir tudo à sua volta, enquanto a fã apavorada se esquiva dos objetos e foge. Após a destruição total do quarto, encontramos Pink no limiar da sanidade mental, atormentado pelo fantasma de sua esposa adúltera. A espetacular fotografia do filme consegue mesclar perfeitamente as imagens com a música, em especial nas cenas deste segmento. Em determinado ponto, a fotografia simula a imagem obtida nos desenhos animados, criando um meio perfeito para a primeira interação das imagens de Parker e Scarf no filme (imagens reais e animadas). A esposa de Pink, retratada como um monstro (feito em animação), encurrala o ator Bob Geldof pelos cantos da sala.
Após essa cena, temos Pink inerte, quando percebemos que estamos diante dos momentos que antecedem as cenas mostradas no início do filme. O muro – uma metáfora para seu bloqueio em relação ao mundo exterior – aparece pela primeira vez.
X. “Is there anybody out there?”
A primeira parte do filme teve o escopo de traçar um histórico do protagonista, dando ao espectador ciência dos fatores que levaram Pink ao estado crítico. Já a segunda parte nos mostra o que acontece com ele após o colapso.
O tema da loucura nos remete novamente à história do Pink Floyd. Syd Barret, primeiro líder da banda e amigo de juventude de Roger Waters, ficou louco em virtude do uso excessivo de LSD nos anos 60. Conta-se que durante as gravações do álbum “Wish you were here” (feito em homenagem ao próprio Barret, no ano de 1975), o ex-membro do Floyd invadiu o estúdio de gravações completamente ensandecido, fato que marcou profundamente os membros do Floyd, e que certamente teve bastante influência na criação de “The Wall”.
Talvez baseados nesse fato, Paker e Geldof construíram o personagem Pink nesse trecho do filme inspirados pela figura de Barret.
Na sequencia, temos mais retornos de Pink às suas origens. Uma das músicas dessa parte do filme pergunta “Does anybody here remember Vera Lynn?”. Poucos se lembrariam, mas na vida real, ela foi uma cantora da década de quarenta, cuja música certamente fez parte da infância de Waters. Era uma música dela que ressoava na mente de Pink em suas memórias, na cena do corredor do hotel, que abre o filme.
XI. “…go to the show”
O quarto do hotel é arrombado e diversas pessoas entram: seu empresário, o gerente do hotel, enfermeiros, seguranças e assistentes. Pink é sedado durante a belíssima “Comfortably Numb”, outra contribuição de David Gilmour à obra. Nos são mostradas as recordações de Pink cedendo lugar a alucinações. Ele se transforma em um enorme verme para renascer como um ditador nazista.
Em pleno show/comício, Pink expõe todo seu desdém pela platéia através de ataques a minorias discriminadas (negros, judeus, homossexuais, e drogaditos). Trata-se da materialização da consciência de Waters o atormentando após o incidente do cuspe na face de um fã durante um show, mas serve como crítica às ideologias de extrema direita, melhor exemplificadas pelo fascismo e pelo nazismo. Tais quais os alunos moldados para serem tijolos (ou ovelhas, seguindo a temática de “Animals”) da sociedade, os indivíduos da platéia não possuem identidade (usam as mesmas máscaras sem face).
É feito um alerta para o ressurgimento destes movimentos de ultra-direita no final deste segmento do filme (que engloba as músicas “In the flesh”, “Run Like Hell” e “Waiting for the worms”). Gilmour e Waters cantam esse alerta nas linhas “Would you like to see Britannia rule again? All you have to do is follow the worms!”. Entra em cena a antológica marcha dos martelos.
Em um corte abrupto, somos levados a um momento onde Pink possivelmente recobrou a consciência. Ele se encontra em um banheiro do que aparenta ser uma instituição psiquiátrica, fora da realidade e talvez entretido com suas memórias.
XII. O Julgamento
Fechando a saga de Pink, temos seu julgamento, onde Scarf aproveita para fazer uma sátira ao sistema judiciário inglês – observe a forma repugnante que ele dá ao advogado de acusação e principalmente ao juiz, retratado como um par de nádegas com uma bolsa escrotal pendurada no lugar do queixo, que no final do julgamento literalmente defeca a sentença, ordenando a derrubada do muro e a conseqüente exposição de Pink.
Durante a música “The Trial” (parceria de Waters com o produtor musical Bob Ezrin) os personagens mais importantes na vida de Pink, caricaturizados por Scarf, servem como testemunhas.
Com a derrubada do muro, vemos crianças recolhendo peças entre os escombros, deixando como mensagem final a esperança.
XIII. Conclusão: Outside the Wall
Acima de gostos pessoais, o filme “The Wall” é uma obra-prima que, pelo seu conteúdo social, merecia ser vista e analisada por todos. O leque de questionamentos propostos pelo filme é tão abrangente que é praticamente impossível encontrar falhas nas sociedades ocidentais do século XX que não tenham sido objeto de crítica nele. Tampouco é fácil a elaboração de um estudo que seja ao mesmo tempo completo e objetivo sobre o filme, tamanha a subjetividade e riqueza de detalhes que ele apresenta.
Uma verdadeira obra de arte, fruto de mentes no auge de seus períodos criativos, trata-se também do registro dos medos de toda uma geração. Apesar do clima pesado e negativo na maior parte do filme, a mensagem final é positiva, nos mostrando que apesar de todas as agruras da vida, sempre teremos a possibilidade de reconstruirmos o presente.
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