sexta-feira, 3 de maio de 2013

Uma poesia como nada...


VERGONHA

Thiago Oliveira




A vergonha do reflexo estampado na face me compele a fugir.
Finjo não saber do que fujo, mas o semblante não me esquece.
Mais uma vez me vejo preso ao muro do silêncio que outrora rompi.
A boca está seca, o ar sombrio, os dedos falham, as idéias somem.
A negação se torna a resposta imediata. Finjo não negar, somente finjo.
E o que me espera a não ser vergonha de me reconhecer mais uma vez.
As ações já se calaram, as palavras não são mais minhas amigas.
A quem engano?
Nem mesmo o papel que se coloca a minha frente, liso, mudo, pronto para receber cada golpe trêmulo de meus dedos.
A repetição de um vocabulário já cansado desse mísero salário.
A condenação a uma redenção involuntária imposta pela ausência de altivez.
Eis o que espera aquele que se encosta à parede.
Finjo não ver o pelotão que se dirige ávido de sangue, só pra não fingir que tenho medo.
Antes fosse de mãos dadas com o medo, mas agora me resta a vergonha do silêncio que me impus.
A quem escrevo?
Aos milhões de leitores imaginários que fui incapaz de libertar dessa prisão silenciosa?
Aos dignos da miséria de uma vida cheia de ilusões?
A quem escrevo, senão a mim?
Mais um rubro tijolo postado sob a vigota mais fraca dessa parede.
Mais um idiota vergonhoso que acredita ludibriar a verdade através das palavras.
Mas a face não me engana. Ela não engana.
E a vergonha está estampada.
Veja quem puder, ela corrompe e corrói. Torna encantadora a fraqueza antes rejeitada.
Nada mais resta a não ser aceitar por força partilhá-la, já que não se pode negá-la:
a vergonha.

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