sexta-feira, 15 de março de 2013

Uma poesia pra esquecer...


Confortavelmente anestesiado

Thiago Oliveira



Assim como o dedo de Crátilo repousa sobre o indizível,
Os olhos de seu julgamento descansavam sobre o a absurdo.
Não um descanso como o dos mortos
Nem o revigorante dos acostumados
Mas marejados, e comprimindo contra sua fronte a distância que ele fora incapaz de
evitar, descansavam o sono dos tolos, do qual um dia julgaram se levantar.
E assim, pôs-se a declinar sobre o que não foi, trazendo consigo a marca indelével de
sua nulidade histórica.
A cada curva projetada pela grafite já gasta, a marca se tornava mais fulgente.
E os olhos?! Ah! Esses sossegavam sobre o absurdo, como se fossem íntimos, como se
a sina diária não lhe fosse mais o estupor de outrora, com quem agora faz cama e se
deita.
Não! Seus olhos não enxergam mais além do que lhe resta de decoro, e quase nada lhe
parece mais alheio.
Confortavelmente entorpecidos, seus olhos repousam sobre o que lhe passa como quem
rechaça qualquer motim.
Será o fenecimento de uma utopia fadada ao goro?
Serão os dias retalhos de uma consciência estuporada?
Será o costume o galardão dedicado aos submissos?
Nada disso importará, pois sua sina será de festim.
Aquela dos ignaros, dos participantes do horário, que em nada se atrapalham com o
revés de outrem.
Seu costume será o de muitos, e só de passagem, com o advento dos loucos, sua sina
será meneada.

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