sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Uma poesia como pão...


A causa e a pena
 Thiago Oliveira
A pena está pesada, o tempo está pesado
A resposta tarda.
Eu do lado de cá com cem grãos de consciência e o vazio me incomoda.
Não é o humor, não é o temperamento, apenas não é.
                                                                    E o tempo pesa.
Consome cada grão num anuncio desesperado.
E a resposta tarda.
Intruso, o devaneio se põe a silenciar o peso que se mascara.
Mas o tempo não permite, e a resposta é falha.
Sob que comando a pena volta a deslizar?
Uma afronta a este peso seria o declínio?
Seria, pelo menos?
Os grãos se espalham e marcam os passos pesados em minha direção.
Surdez e cegueira já não são má opção.
Por que voltou a deslizar?
Agora não é só o vazio que incomoda, como se seu oposto pudesse gerar o mesmo desconforto.
“_ Se apegue aos clichês!”, grita o grão da esquerda.
Mas a pena pesa, e a resposta tarda.
E na esperança do vazio, que já não incomoda mais, tento ocultar o declínio.
E me apego com força de que não só eu e os grãos saberemos.
Mas o tempo pesa, e a certeza é falha.
Não é medo da causa, mas de admiti-la.
Como se evitar as consequências apontasse a contramão do declínio.
Agora será assim.
Ao acordar a pena, cada passo pesado será marcado com um grão.
Mas o devaneio insiste em interromper.
Como se eu não soubesse de sua armadilha preparada a cada curva marcada.
Seu acordo com o tempo permitia a ilusão.
Sob a pena ainda julgo registrar passos escuros.
Não é o acordo do devaneio, mas meu com o tempo, se ele aceitar.
Pelo menos pareço não fingir.
“_ Deixe aos intérpretes, eles dirão!”, retruca o grão da direita.
Mas a pena pesa e a certeza é falha.
E não é que o sarcasmo se tornou a fuga.
O tempo todo, mesmo sob o peso que marcara os grãos, foi a resposta que antes tardara.

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