sábado, 19 de outubro de 2013

A "cultura" da banalização. Parte I

Prometo ser breve nesse post, sério! ou pelo menos vou tentar, vai que me empolgo nessas "mal traçadas linhas", com o perdão do trocadilho. De qualquer modo, esse será um primeiro post de uma série, pois o problema não cabe somente aqui. Enfim, não é por um, nem por dois, nem por três motivos específicos que escrevo, mas por inúmeros motivos, inúmeras situações que ou me envolveram ou tive conhecimento sobre. Do que estou falando? Estou falando daquilo que aqui vou chamar de fato social da banalização exacerbada. O que seria esse conceito?

Bom, banalização é o ato de tornar vulgar ou banal. Tá certo! Essa definição é praticamente circular e nada mais informa sobre a palavra. Vamos lá. Banalização é fazer com que algo que ou tenha certa importância ou possua certo grau de valor se torne banal, corriqueiro, e tenha sua imagem desgastada devido à repetição da ação, da discussão, ou da relativização da análise sobre o assunto. O que é banalizado tem uma consequência não necessária, porém grave: o assunto em questão, ou a a própria ação, se torna facilmente aceitável. Não é preciso muita justificativa, não é preciso defesa lógica ou racional, se algo foi banalizado, será aceitável. E aí é que entra o meu ponto. Vivemos em uma cultura onde a própria banalização foi banalizada e tudo pode se tornar banal, qualquer assunto, qualquer tema, desde problemas cotidianos à teses sobre ciência.
Vivemos em uma cultura da banalização. Banalização da violência, que é explorada em programas sensacionalistas, através de imagens, vídeos, etc., todos tornando o próprio fato social da violência em uma coisa corriqueira e facilmente aceitável em sociedade. Todos se acostumam com a ideia. A banalização da nudez, essa nem precisa de muito comentário (e aqui não venham me chamar de reacionário, visualmente me agrada bastante, mas ao analisar o fato, não dá pra negar que ocorreu uma banalização da nudez). 

Com a internet, houve a banalização da informação. Todos são ao mesmo tempo receptores e transmissores de informação. Qualquer um pode montar um blog (não, "perae"...), usar o Facebook  e transmitir informação do modo que bem entender. Todos são fiscais das ideias de todos, todos são parceiros das ideias de todos (e aqui me permitam usar o quantificador "todo" em um sentindo mais poético do que lógico). Tudo é motivo para comoção na internet. A própria noção de estar comovido com algo se tornou banal. O Facebook talvez seja a expressão máxima dessa banalização das relações entre os homens e da banalização dos valores. Lutar por uma causa se tornou tão efetivo quanto curtir uma página de piadas ou de frases prontas. A própria noção de engajamento político se tornou banal. Eis aí a inserção do conceito que lancei mão mais acima, a saber, a banalização exacerbada como fato social. Banalização já foi explicada, e exacerbada justamente porque há um exagero dessa prática. E por que especificamente estou escrevendo esse post? O último incidente sobre o resgate dos filhotes de beagles me mostrou o quanto algumas coisas antes não banais estão se tornando banais. A noção de ativismo está sendo banalizada, a noção de direitos dos animais está sendo discutida em um viés de banalidade nas redes sociais, e quando a comoção toma conta das discussões, o que já é banal acontecer, nada de bom ou frutífero acaba saindo daí. Não tenho posição BEM formada sobre o assunto, mas entre as inúmeras discussões e posições, algumas mais sóbrias surgem em meio a esse alvoroço todo, como é o caso deste texto do Sakamoto. Vejam, não estou a defender nada em específico, mas me recuso a aceitar que o debate seja pautado pela ignomínia de alguns que mais se movem pela comoção gerada por imagens e vídeos do que por uma explicação do evento a partir de suas causas.
Para a Filosofia, temos um problema sério aqui, a banalização de conceitos como o da "verdade", o próprio sentido de "filosofia" e "filosofar", tornam o seu uso relativo, e a aceitação das proposições que veiculam nas explicações desses conceitos não recebe a devida análise crítica. Sou eu quem possui os critérios para tal intento? Claro que não (até queria...), mas a própria história do pensamento humano se encarregou de estabelecer esses critérios ao longo dos anos, e eis aí um ponto interessante, a História pode até ser negada por alguns, ocultada por outros, mas ela não pode ser banalizada, porque ela mesma é o lugar comum onde essa banalização ocorre em oposição ao valor não desgastado. Nesse sentido, somos sujeitos da história, e ao mesmo tempo objetos da história, nos lançamos sobre ela ao mesmo tempo que nela somos lançados, e o ato de banalizar valores, ações, conceitos, informações, a arte tudo isso faz parte de um momento histórico que chamaria de uma cultura da banalização exacerbada. 

continua nos próximos capítulos...

Abraços

Thiago

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