quinta-feira, 21 de março de 2013

Uma poesia...


Delírios

Thiago Oliveira



Cada gota compunha a marcha derradeira de uma alma delirante
Deleitando-se em amargura, o tempo consumia sua essência
E não restava nada mais do que admirar o definhamento
As súplicas tornavam-se vazias, o apelo ecoava entre as paredes
Enquanto isso, não distante dali, a chuva resolvia-se límpida e contínua
Exaltando a beleza de um mundo que assim não mais lhe parecia.
Não foram as migalhas de momentos fúnebres que abocanharam o velho sabor
Mas sim sua impertinente insistência em alimentá-las
Não cabia mais ao senhor das horas resolve-las, pois cada gota trazia consigo a
marca das outras, esganiçando cada lapso registrado
Sua mão era incapaz de alcançar a ampulheta e o consolo se transformara em
esperança.
Não há nada mais assustador que o reconhecimento!
Sua melodia pode surpreender aos mais convictos
E em cada nota a alma se revela distante do que outrora acolhera
Não há silêncio mais aterrador do que o produzido por ele.
E o que dizer diante de um espelho?
Há o que se admirar?
Há o que se olhar?
Há?
As gotas cessam, a marcha já não assusta tanto
Por fim, sua alma delira
O que restará após tal enfrentamento?
Como lidar com o que foi expungido?
Não há calma serena para os que deliram
Somente o tormento e a tristeza de seu reconhecimento
Somente o monstro de “si” a destroçar a ampulheta
Somente sua alma
E se as gotas voltarem? E se a marcha retomar seu fluxo?
Agora sabendo de “si”, será capaz de querer reconhecer?
Só o silêncio dirá.

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