Seguindo a linha de textos já postados neste blog, os quais vocês podem conferir aqui, aqui e aqui, posto mais um texto para a apreciação dos leitores. Em se tratando do reino dos porcos, onde os macacos governam, nada pode nos surpreender mais...
Abraços
Thiago
A nova cultura de informação (continuação)
Outra noite, antes de
deitar, assistia a um desses programas da madrugada e não pude deixar de notar
um velho ditado utilizado pela nutricionista que tentava justificar seu
argumento, a saber, “você é o que você come"! Não discutirei os argumentos
da nutricionista que pretendia defender a ideia de uma alimentação saudável
livre de excessos e tudo mais, e nem serei sarcástico o suficiente para dizer
que se como somente folhas eu sou um vegetal. Não é esse o ponto a discutirmos
aqui, mas a sabedoria popular que é capaz de expressar em um simples ditado
situações tão peculiares. Se lembrarmos bem do argumento que utilizei no primeiro texto para justificar a aceitação acrítica da informação recebida e da analogia
para representar tal aceitação, veremos grande semelhança com o ditado aqui
referido. A nutricionista defendia a ideia de que uma pessoa cuja alimentação é
baseada em grande quantidade de gordura e carboidratos não será outra coisa
senão a expressão física desse tipo de alimentação, em outras palavras, uma
pessoa com excesso de peso e colesterol alto. Nesse sentido, pode-se dizer
tranquilamente que essa pessoa é o que ela come. Pra não deixarmos os fanáticos
por carboidratos ofendidos, lembro que ela também citou a alimentação daquelas
pessoas que não fornecem a quantidade básica necessária de carboidratos e
gordura para o corpo, o que se manifesta fisicamente neste, dando-nos o direito
de dizer que essa pessoa é justamente aquilo que ela come (ou aquilo que ela
não come, nesse caso). Tendo essa referência sido estabelecida para auxiliar
minha analogia, uma vez que nem tenho capacidade de adentrar em uma discussão
sobre qualidade de alimentação (a minha não é lá essas coisas), vejamos a
relação entre os três pontos anunciados: a nova cultura de informação, o ditado
citado e o argumento da nutricionista. De início preciso admitir que me causa
um certo desconforto querer levar a cabo essa tripla analogia, pois não
acredito que sairei dela ileso, mas não posso furtar aos interessados o
desfecho dessa perigosa empreitada. A princípio a primeira analogia que se
manifesta, e aquela bem aparente, dados os argumentos já postos, é a de que “nós
somos a informação que ‘engolimos’”, ou, se os mais sensíveis intelectualmente
preferirem, "nós somos a informação que nos é colocada goela abaixo".
Cotejemos a propaganda. Não que eu queira me gabar, mas me considero um
razoável apreciador de cerveja (infelizmente não me pagam para isso), mas uma
coisa que me causa grande espanto é a propaganda da cerveja. Às vezes sinto uma
imensa vontade de me levantar da poltrona pegar o telefone e chamar os amigos
para um churrasco regado a caixas de skol
cada vez que vejo várias de suas propagandas, tão bem elaboradas, tão
convincentes e tão bem desenvolvidas, mas com um produto da mais baixa
qualidade. Pergunte a qualquer "botequeiro" que se preze e ele te
dirá: "skol é água pura!". Mas mesmo assim a maior parte da população
que bebe a cerveja popular (sim, porque esse tipo de cerveja é popular) bebe skol. Nossos jovens, se é que posso chamá-los
de nossos, já iniciam sua carreira social com a latinha de skol na mão, que
propicia maior status e aceitação do que uma latinha de Baden. A propaganda
exerce o seu papel muito bem, e ao consumidor cabe exercer o seu. Logo,
retomando o princípio do ditado, aquele que bebe skol é um péssimo
"bebedor de cerveja", dada a baixa qualidade da mesma (por outro lado
ele pode ser considerado como um ótimo consumidor da falsa propaganda). As analogias
não param por ai, e o tipo propaganda também não. Aliás, para não perder o
horizonte estabelecido pela tripla analogia, o conceito de propaganda deve ser
ampliado, assim com foi o de cultura de informação em nosso post anterior.
Melhor ainda, essa ampliação do conceito de propaganda aqui pretendida deve
estar contida dentro daquela concepção de nova cultura de informação, que como
veremos não é nada nova, apenas o reconhecimento como tal se mostraria novo.
Poderíamos retomar vários eventos históricos para justificar o argumento, como
a máquina de propaganda criada pelo movimento do nacional-socialismo da
Alemanha de Hitler, ou o período de ditadura no Brasil e sua censura, entre
outros. Não há como negar, informação, em sua acepção mais ampla, é sempre
repassada, de um jeito ou de outro, de cunho político ou religioso,
mercadológico ou anti-consumista. A pergunta é: "você é o que você
come?" Eu mesmo tenho medo de minha resposta. Mas não podemos deixar de
finalizar a tríplice analogia (se é que se poderia julgar ser possível fechá-la
em tão breves palavras). Como a nutricionista havia dito em sua entrevista, o
indivíduo manifestaria fisicamente o alimento ingerido, do mesmo modo
acreditamos acontece com aquela esponja acrítica, a qual é o retrato fiel do
alimento ingerido. Assim foram os nazistas, assim são os radicais religiosos, e
não só muçulmanos, mas cristãos, judeus, etc., assim são os ávidos por consumo,
na triste e amarga ilusão vendida de que no ato da compra a satisfação
existencial estará garantida, entre outros. Se uma simples propaganda de um
belo carro com uma bela mulher consegue comover e compelir o homem moderno a
assumir aquilo como um princípio de vida, imagine o que propagandas milenares
fundadas em mentiras que mexem com o imaginário do homem. Não é simples romper com esse ciclo imposto por essa cultura de
informação desde os primórdios do homem, e por mais que seja indesejado por
essa sociedade estática que pretende se fundar em mentiras, é necessário que
haja questionadores, mesmo que sejam aqueles que façam simples perguntas como:
O QUE É QUE VOCÊ COME?
Bonus track
Adoro esse vídeo
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