VERGONHA
Thiago Oliveira
A vergonha do reflexo estampado
na face me compele a fugir.
Finjo não saber do que fujo, mas
o semblante não me esquece.
Mais uma vez me vejo preso ao
muro do silêncio que outrora rompi.
A boca está seca, o ar sombrio,
os dedos falham, as idéias somem.
A negação se torna a resposta
imediata. Finjo não negar, somente finjo.
E o que me espera a não ser
vergonha de me reconhecer mais uma vez.
As ações já se calaram, as
palavras não são mais minhas amigas.
A quem engano?
Nem mesmo o papel que se coloca a
minha frente, liso, mudo, pronto para receber cada golpe trêmulo de meus dedos.
A repetição de um vocabulário já
cansado desse mísero salário.
A condenação a uma redenção
involuntária imposta pela ausência de altivez.
Eis o que espera aquele que se
encosta à parede.
Finjo não ver o pelotão que se
dirige ávido de sangue, só pra não fingir que tenho medo.
Antes fosse de mãos dadas com o
medo, mas agora me resta a vergonha do silêncio que me impus.
A quem escrevo?
Aos milhões de leitores
imaginários que fui incapaz de libertar dessa prisão silenciosa?
Aos dignos da miséria de uma vida
cheia de ilusões?
A quem escrevo, senão a mim?
Mais um rubro tijolo postado sob
a vigota mais fraca dessa parede.
Mais um idiota vergonhoso que
acredita ludibriar a verdade através das palavras.
Mas a face não me engana. Ela não
engana.
E a vergonha está estampada.
Veja quem puder, ela corrompe e
corrói. Torna encantadora a fraqueza antes rejeitada.
Nada mais resta a não ser aceitar
por força partilhá-la, já que não se pode negá-la:
a vergonha.
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